O breviário do Ser

O breviário do Ser
Retrato de Orides Fontela por Fritz Nagib a pedido de Augusto Massi para uma coleção de poetas contemporâneos (Foto: Fritz Nagib)
  Da metafísica (ou da metalinguagem) O que é o que é?  Nesse poema está o mito fundador da filosofia, que é também charada e questão irrespondível: “Não há perguntas. Selvagem/ o silêncio cresce, difícil” (“Esfinge”). Eis em Orides o enigma do Ser, do início e do fim, o mutismo incompreensível do mundo: “Lavro a figura/ não na pedra (inda plástica) mas no inumano vazio/ do silêncio” (“Odes, Ode IV”).  O thaumazein originário é thauma e trauma, maravilhamento e ferida, pois o real não pode ser dito conceitualmente pela linguagem. Não por acaso, o poema-epígrafe do livro Transposição diz: A um passo de meu próprio espírito A um passo impossível de Deus. Atenta ao real: aqui Aqui aconteço. Essa proximidade, que é distância imensurável de “Deus”, constitui sua ausência, e o pressentimento de que o Absoluto excede o sentido, irradiando-se por todas as coisas. Na poesia de Orides, Deus é contraditório, mesmo na criação de seus anjos. Antes da modernidade, anjos e pássaros habitavam na proximidade do divino. Eram anjos da delicadeza, como o de Tobias, anjos protetores que, desencarnados, desconheciam os conflitos dos seres mortais neste mundo passageiro. Além disso, há os anjos efêmeros da Cabala, criados para cantar por um instante e desaparecer no nada.  Oposição  Na oposição se completam os arcanjos contrários sendo a mesma existência em dois sentidos. (Um, severo e nítido na negação pura de seu ser. O outro em adoração firmado.) Não se contemplam e se sab

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