Orides Fontela, aristocrata selvagem

Orides Fontela, aristocrata selvagem
Retrato de Orides Fontela por Fritz Nagib a pedido de Augusto Massi para uma coleção de poetas contemporâneos (Foto: Fritz Nagib)
  Eu sou o próprio coração selvagem. Orides Fontela  Estrela e pássaro estão entre os vocábulos mais recorrentes da obra poética de Orides Fontela. Embora façam eco à tradição simbolista e espiritualista, tais símbolos não constituem, porém, a cifra de um programa estético. Em contraste com a imagem da poeta atraída pelas altas esferas, nela também chama inevitavelmente a atenção o fato de o indivíduo – a mulher Orides por trás do eu lírico interessado no movimento dos astros – ter passado a vida tropeçando em pedras, esfolando-se, caindo em buracos.  Ao longo de sua vida, doenças, depressões e problemas financeiros se acumularam. Nos últimos anos, sem dinheiro para pagar o aluguel do apartamento onde vivia, Orides tinha morado de favor na Casa do Estudante, um velho prédio na avenida São João, uma das áreas mais degradadas do Centro paulistano. Dizia na época que estava virando homeless ou “omelete”. Na verdade, sempre viveu como se morasse debaixo da ponte, em posse de apenas dois ou três talheres e improvisando panelas, cercada de gatos.  Algo que causava impacto era a maneira como lia em voz alta seus poemas. Se no papel os versos pareciam suaves, a voz estridente e o ritmo vigoroso da declamação faziam com que soassem ásperos, violentos. Era uma leitura feita com pulso e autoridade, em contraste também com a fragilidade corporal da autora. Mas estava de acordo com seu modo de reverenciar a poesia como melodia arcaica, “canto essencial da língua”. Sintonizada com o viés oracular de muitos de seus versos,

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